UM ANO SEM METAS
“Se você não sabe onde quer ir, qualquer caminho serve”. Será mesmo Mr. Carroll?
E se a única resolução para o ano fosse viver sem metas, abraçando o que quer que venha, com o coração aberto e aceitação? E se a única resolução fosse: viver a própria jornada?
Para quem sempre planejou todos os passos (listas, vision boards, mapa mental…), meta ousadíssima.
E a minha lista nunca foi pequena: quantidade de livros para ler, textos para escrever, lugares para visitar, virtudes para praticar, cursos para fazer, filho para ter, desempenho profissional, quilômetros para correr, dias sem carne e assim vai…
Dezembro de 2021, uma lista de metas a serem auditadas. Tantas expectativas resumidas em caixinhas. Um lembrete colorido e ilustrado das minhas maiores fontes de crise, dor e frustração.
Ainda sinto o peso do ano que passou nas costas. As dores do caminho. Dores que em janeiro de 2021 eram belas caixinhas. Caixinhas que nunca receberam seu check.
Errei na programação? Não me esforcei o suficiente?
Não.
Simplesmente esqueci que somos humanos. Que somos falíveis e frágeis, vivendo em um ambiente complexo, não linear e incerto.
Presumir que ao criar a meta eu possuía uma certeza de resultado e felicidade, me desconectou de mim mesma e do que realmente estava acontecendo. Tantas oportunidades novas, todas ofuscadas por expectativas pré estabelecidas.
Temos muitos pontos cegos. Pois a mente não cria o que não conhece.
Tão identificados com os rótulos que criamos, deixamos de viver a vida que se apresenta. Não sobra espaço ou flexibilidade mental para que algo novo se abra. Estamos demasiados presos nas nossas identificações, defendendo a autoimagem que estabelecemos.
Essa busca incansável por algo, afasta a atenção do que já é. Podemos chegar ao ponto em que os planos te apequenam ao invés de expandir.
Mas e se..
…bastasse viver de forma livre e entusiasmada todos os dias?
…bastasse fazer a jornada para dentro de si de forma espontanea?
“Grande, no homem, é ser ele uma ponte e não um objetivo: o que, pode ser amado, no homem, é ser ele uma passagem e um declínio”.
E Nietzsche não poderia ter sido mais claro comigo.
Janeiro de 2022, pela primeira vez desde que posso me lembrar, não tenho lista de metas. Não tenho um vision board. Não tenho um mapa mental.
Tenho algo diferente. Espaço e tempo ocupadíssimo sendo livre de objetivos e compromissos desnecessários. Vivendo os dias como se apresentam, sorrindo e ouvindo mais, ao mesmo tempo que planejo e cobro menos.
E, novamente ele, me trazendo luz
“…quem pouco possui, tanto menos será possuído.” Nietzsche
Não é sobre ser negligente, procrastinador ou passivo a vida. Não é sobre mudar de profissão, de cidade ou relacionamento. É sobre reduzir a bagagem de exigências.
Afastar distrações e cobranças desnecessárias (pois já bastam as necessárias). Simplificar os dias. Viver sem estar possuído pelas próprias expectativas. Tudo isso para que haja espaço ao inesperado e surpreende novo.
Farei o teste.
Um ano de respiro. Sabático. Espontâneo. Folha literalmente em branco. Espaço para algo novo, fresco, mágico. Algo que pela primeira vez não consigo (ou quero) encaixotar ou prever.
E, pela primeira vez a máxima “Se você não sabe onde quer ir, qualquer caminho serve”, não me soa tão dramática.
Quando o destino é para dentro, os caminhos tem menor importância. Aonde quer que vá, lá estará você vivendo sua própria magia.
Você me acompanha nessa? Me conta quais são os seus NÃO planos.
Fer Michalski. Mochila e agenda vazias. Espaço aberto ao magico e surpreende novo.
Meus primeiros NÃO planos:
Reconhecer meus inegociáveis: café da manhã com coado e conversa fiada com meu marido; movimentar meu corpo; comer o que me nutre; ter tempo livre para rabiscar e organizar os pensamentos; ler no sol...
Retomar a sensibilidade do tempo disponivel. Organizar minha agenda sem esquecer que eu tenho apenas 24hs, das quais preciso usar 8 para dormir!
Mudar de idéia.
E minha inspiração para um 2022 diferente: "Assim Falou Zaratustra" por Friedrich Nietzsche. Uma amostra de que é o desejo de viver livre de si-mesmo é centenário. Para quem ainda não leu ou quem já leu e esqueceu (meu tipinho), escolha seu vinho favorito, uma manhã de sol e permita-se.