Quarentando.
Quarentei com lua cheia e florada das cerejeiras. Diferente dos 30, fechar esses adicionais dez anos teve sabor diferente.
Sabor de liberdade, sem a urgência descabida dos 30. Sem a pressa de poder, de vencer, de conquistar. De ter.
Essa nova liberdade chega com o peso gigante da responsabilidade de ser. Não há mais tempo a gastar com as miudezas logo esquecidas; com poder que virá pó; com ilusões e padrões; inação por vergonha e medo de desagradar; adiar começar, adiar dizer adeus e ir em busca de quem se é.
É inadiável viver a própria aventura. Se livrar de vez de tudo que apequena e que limita. Aprender a conviver com as angústias de quem assume as próprias rédeas. As dores e os amores de fazer escolhas. Organizar as bases e definir, com o filtro de dentro, como viver as próximas décadas.
40 com sabor de amor maduro, sereno e transparente; onde quem fica o faz por escolha. Por confiar na fundação bem feita, sem fuga, construída no dia a dia a base de conversas e escolhas difíceis, com respeito e muito (m u i t o) chamego.
Inseguranças e medos que a muito deixaram de fazer sentindo. Não há espaço para insegurança quando a base da relação é o diálogo sincero. Desnudo. Porém, aprender “como” falar, foi ainda mais importante do que simplesmente despejar minha verdade. Compreender, não no conceito mas com a alma, que ninguém pertence a ninguém, ninguém deve ser submisso ou controlar outro alguém. Estamos juntos em viagem e para faze-la é preciso de duas pessoas inteiras e presentes.
Foi também a década da chegada de suaves mexas platinadas, que naturalmente foram entrando no balanço
.
De menos certezas e vinhos, mais espaço e água com gás.
Menos opiniões e cara fechada; mais curiosidade e dentes.
Menos mimimi e mais laços de amizade à prova de qualquer distância.
De cada vez menos voz e mais ouvido. Não por falta do que dizer, mas por finalmente compreender que a sabedoria está no não dito. O mundo já faz tanto barulho, que tem sabedoria aquele que sabe baixar o tom, silenciar; aquele que escolhe não desperdiçar palavras com ouvidos fechados.
De escolher cada caminho, destino e lugar pelo seu potencial de embelezar o ser. De enriquecer o espírito de aventura, de curiosidade pelos mistérios, por tudo que nos transcende e faz crescer moralmente. De aprender a viver sem celular na mão, porque o indispensável fica registrado na memória de quem vive. A alma lembra o que sente na pele.
Tanta vida em 40 anos. Tenho consciência de que “vivo muito do que já foi apenas sonho”. E que o fato de vivê-lo não torna a minha vida perfeita. Que não existe perfeição. O alvo é a busca da mente serena, daquele que confia que o universo não erra de endereço. Por enquanto, pouca serenidade e uma abundância de outros desassossego rs.
Entre tudo o que já foi e tudo que ainda não é, existe nós, agora, sendo a história e escrevendo junto o que será só memória.
Você vem?
Muito bom... “que tem sabedoria aquele que sabe baixar o tom, silenciar; aquele que escolhe não desperdiçar palavras com ouvidos fechados.” minha parte favorita. Adorei